domingo, 3 de agosto de 2014

Texto produzido por: Francisca Meneses, Jailson Valentin, Márcia Nielle, Mohana Jéssica, Nádia Narcisa, Walton Luz.
Tendo por base: MARX, Karl. A maquinaria e a indústria moderna. In: _________ O Capital: crítica de economia política. Livro I- 20º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.


O desenvolvimento da maquinaria
Quando o capital desenvolve as suas máquinas e meios de produção, eles não têm por objetivo diminuir o fardo que os trabalhadores carregam, ou seja, diminuir a sua carga horária, o seu principal objetivo é gerar a mais valia, diminuir o tempo de trabalho efetivamente pago e aumentar o tempo em que o trabalhador exerce a sua função gratuitamente e encurtar o tempo que as mercadorias levam para ser produzidas, podendo com isso baratear as mercadorias, sem diminuir os seus lucros.
Para chegar ao estágio de produção mecanizada o capitalismo partiu das ferramentas manuais, imitando-as, só que em tamanho maior, e diferindo também no que diz respeito a sua força motriz, as ferramentas eram impulsionadas pela força humana, e as máquinas por forças diversas, como a água e o vapor. “A máquina ferramenta é, portanto um mecanismo que, ao lhe ser transmitido o movimento apropriado, realiza com suas ferramentas as mesmas operações que eram antes realizadas pelo trabalhador com ferramentas semelhantes.” (MARX, 2002, p. 430).

Ferramentas manuais. Imagem disponível em link
Máquinas desenvolvidas. Imagem disponível em link

A partir do momento em que as máquinas passam a funcionar com a força da água, do vapor, entre outros, o trabalho humano começa a ser dispensável, podendo facilmente ser substituído. A produção aumenta e o número de ferramentas que o homem podia operar se emancipa, fazendo parte agora de um mecanismo complexo.  As máquinas expandem o seu tamanho e passam a exigir motores cada vez mais potentes. A indústria por muito tempo ficou limitada em seu desenvolvimento, enquanto dependia das forças humanas, incapazes de fornecer um impulso continuo. A indústria moderna teve que começar a produzir máquinas a partir de máquinas, como uma forma de produzir uma base técnica adequada ao seu desenvolvimento.

Consequências imediatas da produção mecanizada sobre o trabalhador
O uso das máquinas nas indústrias diminui o esforço físico dos operários e possibilitou a inserção de mulheres e crianças nas fábricas por um valor inferior ao que era pago aos homens, ocasionando significativa redução do quadro masculino nas indústrias. Dessa forma, o capital conseguia explorar a força de trabalho de toda a família, obtendo um lucro maior.
A utilização dessas novas forças produtivas, somadas à substituição de trabalhadores por máquinas gerou uma população trabalhadora excedente, sujeitando os operários à lei do capital. As mulheres, ao se ausentarem de seus lares para trabalharem nas fábricas, deixavam seus filhos pequenos em casa. Devido à má alimentação, à falta de cuidados e ao uso proposital de narcóticos, a mortalidade infantil foi crescente durante esse período.
Na necessidade de complementação da renda familiar, os pais vendiam as forças de trabalho das crianças a partir dos 8 ou 9 anos, até que foi estabelecida pela lei fabril que os menores só poderiam trabalhar a partir dos 13 anos. Contudo, essa determinação não impediu que os pais e capitalistas burlassem as leis, contratando médicos para aumentarem suas idades, permitindo assim a exploração da força produtiva das crianças.

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A Lei fabril de 1844 foi criada para instituir a obrigatoriedade de ensino nas fabricas. Porém, a educação nas indústrias não significava a aprendizagem, pois não havia condições físicas e materiais e muito menos o interesse dos capitalistas em instruir as crianças.
A jornada de trabalho era de 12 horas diárias para todos os trabalhadores da fábrica (homens, mulheres e crianças). Os operários, saturados pela ampla jornada de trabalho, iniciaram protestos que reivindicavam uma diminuição da jornada, que levou a redução de 12 para 11 horas diárias. Contudo, essa redução não significou um abrandamento das atividades. Efetivamente ela significou uma maior intensificação do trabalho, uma vez que operário deveria produzir a mesma ou uma quantidade maior de mercadoria em uma hora a menos de expediente.  

A Fábrica
         Marx fala da divisão do trabalho na fábrica, destacando que o grupo organizado da manufatura é substituído pela conexão entre o trabalhador principal e seus auxiliares, num processo de cooperação simples.
         Trabalhador principal: toma conta da máquina motriz.
         Trabalhadores auxiliares: alimentam a máquina com o material a ser trabalhado, geralmente eram crianças.
         Classe de trabalhadores de nível superior: os que controlam a maquinaria e cuidam dos reparos. Exemplo: Engenheiros, mecânicos, marceneiros, etc. São diferentes dos trabalhadores, pois estão apenas agregados a eles. Seu trabalho é puramente técnico.
         Para o bom desempenho das máquinas a aprendizagem do trabalhador começar desde cedo, iniciando ainda criança. Tal trabalho acaba sendo bastante difícil, causando esgotamento físico dos trabalhadores. É de destaque a péssima condição de trabalho, onde os trabalhadores ficavam vulneráveis a doenças, devido às elevadas temperaturas, atmosfera poluída de resíduos de matéria prima, barulho ensurdecedor, dentre outras.
        Os acidentes eram frequentes no ambiente da fábrica, principalmente nas sextas e sábados, dias destinados à limpeza das máquinas, estas ainda em funcionamento e tal trabalho não era remunerado. Também haviam as penalidades impostas aos trabalhadores, caso eles não cumprissem as normas estabelecidas. Tais penalidades ocasionavam multas e descontos salariais.
Fábricas. Imagem disponível no link

Teoria da compensação
Com o surgimento da máquina, que por sua vez teve consequências diretas na vida do trabalhador, várias teorias surgiram para reafirmar o ponto positivo do emprego da mesma. Dentre os teóricos economistas, existia uma teoria que afirmava uma compensação relativa ao desemprego causado pelo uso da máquina. A teoria do capital formulada por Marx confronta essa visão.
A composição do capital muda: O capital variável do qual Marx fala seria a remuneração dos trabalhadores que por sua vez, ao serem demitidos, libera-se esse capital transformando-o em capital constante empregado na máquina. Os trabalhadores então passam a fazer parte das forças disponíveis para o mercado de trabalho, que ficam à disposição da exploração capitalista, pois na medida que ocorrem as demissões, esse mercado só cresce, e o capital que antes poderia ser distribuído pelos trabalhadores, passa a fazer parte do capital acumulado pela minoria.

Indústria Moderna: artesanato, manufatura e trabalho
à domicílio
Com a repercussão do sistema fabril houve um processo de transformação  que resultou numa divisão do trabalho graças à maquinaria, adentrando progressivamente nos processos parciais das manufaturas e também na indústria à domicílio, trabalho exercido na residência dos trabalhadores ou em pequenas oficinas, caracterizado pela exploração do capital através da indústria caseira. Essa última atividade estava dividida entre a modalidade de produção de rendas e traçados de palha, produzindo espaços de mulheres e crianças.
Esta revolução industrial que se processa de maneira espontânea e artificialmente acelerada pela extensão das leis fabris para todos os ramos onde trabalhavam mulheres e crianças. A regulamentação coativa da jornada de trabalho estabelece a duração, as pausas, os começos e o fim da jornada, o sistema de turnos das crianças, etc. nas fábricas e nas manufaturas que não estão ainda subordinadas à lei fabril, reina periodicamente o mais terrível excesso de trabalho durante estações ou temporadas.

Legislação fabril inglesa - 1864

Disposições sobre a higiene
O capitalismo burla as leis, os regulamentos sobre a higiene são pobres, muitas vezes se restringem a pintar paredes, a ventilação e pouca ou nenhuma proteção contra máquinas perigosas.
A lei da ventilação se fazia necessária, uma vez que os ambientes eram insalubres e pestilentos. Seu teor também acelera a transformação de pequenos estabelecimentos em fábricas, assegurando o monopólio dos grandes capitalistas, uma vez que os pequenos fabricantes não teriam recursos financeiros para adequar a ventilação para todos os funcionários. A falta de ambientes ventilados causava a tuberculose e outras doenças pulmonares. Para Marx o aumento do número de fábricas é proporcional ao número de acidentes.

Instrução primária e emprego de crianças
Crianças menores de 14 anos não podem ser enviadas às fábricas sem estarem ao mesmo tempo na escola primária. Os inspetores da fábrica descobrem nos depoimentos de metre escolas que as crianças que trabalhavam e frequentavam a instituição escolar aprendiam tanto ou mais do que as que não trabalhavam. Considerando ser uma válvula de escape devido às mudanças de ambiente e atividades. Para Marx (2002), esse é um discurso do capitalista, no qual quem trabalha está mais disposto quando chega à escola, mais apto a aprender. Para os capitalistas as crianças que permanecem na escola o dia inteiro são improdutivas devido à monotonia, além de levarem ao desgaste da força do professor.
É desse sistema de fábrica que vai surgir o ensino técnico profissionalizante, para que se possam desenvolver seres humanos plenamente capacitados para o trabalho. Institui-se uma modalidade de trabalho, na qual é preciso uma versatilidade do trabalhador, o ser humano capacitado para as necessidades variáveis do trabalho, por isso a inserção da educação na lei. Assim sendo o capitalismo se reinventa a seu benefício.

Trabalho a domicílio
A indústria moderna vai dissolver o trabalho familiar, domiciliar, as leis não regiam sobre esse trabalho. Os capitalistas afirmavam que as crianças eram exploradas pelos próprios pais, no entanto o que notasse é que elas trabalhavam brincando, era uma ajuda na qual havia uma flexibilidade de horários. Todavia, é na fábrica onde se dará os abusos, a criança será forçada todo dia a um trabalho cansativo e repetitivo.
Em relação à generalização da lei fabril de 1864, os donos de fábrica queriam igualdade de exploração, cumprimento das leis por todos os patrões. Sendo está lei abrangendo agora a indústria de cerâmica, têxtil, usinas siderúrgicas de cobre, fábrica de máquinas e oficinas.
A lei que regia sobre as minas era a de 1842, que proibia o trabalho embaixo da terra realizado por mulheres e crianças com menos de 10 anos.

Indústria moderna e agricultura
Na agricultura moderna o emprego da maquinaria está livre de prejuízos físicos para o trabalhador, o qual de modo inverso acontecia na fábrica. A indústria moderna destrói a velha estrutura social, onde o camponês é substituído pelo trabalhador assalariado.
As transformações sociais e as oposições de classes são igualadas as da cidade. Os métodos rotineiros são substituídos pela aplicação da tecnologia e da ciência, todo o conhecimento acumulado, uso da ciência em favor da maquinaria.
Há uma quebra dos laços que unia agricultura e manufatura. Agora na produção capitalista unense a agricultura e indústria. De tal modo, quanto maior o crescimento populacional, mas produtos devem ser produzidos.
É no campo que o capitalista encontrará força motriz para o seu maquinário, como força da água, dos ventos etc. O processo capitalista se dará por meio da exploração do trabalhador e também de todos os recursos naturais do solo. Quanto mais rápido se da o processo de indústria moderna mais rápido ocorre à destruição.


Palavras finais
A construção da tecnologia é história. Com a industrialização e o fortalecimento do capitalismo, há a potencialização da extração da mais-valia, parte não remunerada do trabalho.
Historicamente a mais-valia se acumula a cada máquina nova, consequentemente o trabalho intensifica, ocasionando o maior lucro e sonegação por parte do capitalista. Assim o texto de Marx faz crítica ao uso da máquina, como ela foi desenvolvida para o trabalho a serviço do capital.

“É duvidoso que as invenções mecânicas feitas até agora tenham aliviado a labuta diária de algum ser humano.” (John Stuart Mill).